POR UMA REALIDADE MENOS FUGIDIA:
OS PAPEIS DE PEDRO MENDES DA ROCHA

curadoria de Tadeu Chiarelli

De 01.06 a 13.07/24
quarta a sábado
13 às 18h

A nova exposição individual da Galeria Tato traz um recorte da produção de desenhos e colagens do artista Pedro Mendes da Rocha, com curadoria de Tadeu Chiarelli.

Os trabalhos em papel selecionados para esta exposição trafegam por dois eixos: o primeiro é integrado pelas charges bem-humoradas do artista, que comentam o cotidiano e as circunstâncias políticas que nos envolvem; já o segundo apresenta suas colagens. Nelas, embora o humor e a política também venham à tona, o que rege é a estruturação geométrica.

Segundo Tadeu Chiarelli: “Num primeiro olhar, esses trabalhos parecem descomprometidos de qualquer coisa, a não ser com o puro prazer de produzi-los. Engana-se quem pensar assim. É claro que essas charges e colagens deixam transparecer que são produzidas com muito gosto, mas elas demonstram ter também como objetivo interpretar/recriar o cotidiano, tornando-o mais crítico, menos fugidio. Sem dúvida, uma produção comprometida com a vida e com o entorno”.

Para me aproximar da produção que Pedro Mendes da Rocha desenvolve no campo do desenho e da colagem, eu me vi levado a produzir uma tipologia desses trabalhos, uma estratégia para, pelo menos, desvendar (e não propriamente analisar) a ordem que eu intuía existir camuflada sob os meandros de toda aquela polifonia.

Seus trabalhos em papel trafegam por dois eixos, e o mais saliente (e divertido) é integrado por suas charges bem-humoradas, que comentam o cotidiano e as circunstâncias políticas que nos envolvem. Pedro sempre desenhou; porém, a partir de 2020, quando o Brasil e todos nós, brasileiros, nos vimos confinados por duas tragédias – a Covid-19 e o governo de então –, o artista intensificou seu fazer, que culminou nos meses que antecederam e sucederam as eleições de 2022.

Todas essas charges, de uma maneira ou de outra, evocam aquelas de Saul Steinberg, artista (nascido na Romênia e estabelecido nos Estados Unidos) que transformou o estatuto das charges em revistas e outros periódicos, após o final da Segunda Grande Guerra. É claro: Pedro parece ter um humor mais ácido e não comunga com a sutileza de Steinberg, porém ele soube absorver do artista mais velho uma predileção pela liberdade do traço e a vontade de, deixando-o fluir, dele fazer nascer, enfim, o desenho, o comentário sobre isso ou aquilo.

Dentro ainda desse primeiro eixo existe outro segmento de desenhos/charges que, em alguma medida, traz para o campo dos trabalhos em papel de Pedro sua experiência como arquiteto. Um dos pontos altos de sua produção são justamente as charges/desenhos em que o esquema das plantas arquitetônicas é sempre submetido ao aparente caos das linhas que detalham e corroem a racionalidade daquelas plantas. Ordem e caos; caos na ordem; ordem no caos.

É justamente esse último segmento de obras que, a meu ver, mais dialoga com o segundo eixo que subdivide a produção de Pedro. Eu refiro às suas colagens. Nelas, embora o humor e a política também venham à tona a partir de certas inserções nessa ou naquela peça, o que rege esse eixo da produção é a estruturação geométrica. Se nas peças anteriores as inserções produzidas por Pedro parecem comentar a rigidez esquemática das plantas arquitetônicas, na maioria dessas colagens há como uma sabotagem proposital das formas recortadas pelo artista e dispostas pelo plano do papel ativando-o até que ele deixe de ser um mero suporte para a representação, para tornar-se pleno objeto bidimensional.

Num primeiro olhar, esses trabalhos parecem descomprometidos com qualquer coisa, a não ser com o puro prazer de produzi-los. Engana-se quem pensar assim. É claro que essas charges e colagens deixam transparecer que são produzidas com muito gosto, mas elas demonstram ter também como objetivo interpretar/recriar o cotidiano, tornando-o mais crítico, menos fugidio. Sem dúvida, uma produção comprometida com a vida e com o entorno.

— Tadeu Chiarelli

Abertura: 1º/6/2024, sábado, das 13h às 18h
Visitação: de quarta a sábado, das 13h às 18h, até 29/6/2024

Entrada gratuita